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Os seres humanos não são apenas animais mais inteligentes

13 de junho de 2011

Raymond Tallis*

Nem todas as ideias erradas são dignas de se contestar. Existem algumas, porém, que não podem ser ignoradas. Aquelas que interpretam erroneamente questões de suprema importância, ou atrapalham nosso pensamento sobre elas, ou têm sérias consequências, devem ser discutidas. Uma dessas ideias é a de que os seres humanos são essencialmente animais; ou no mínimo muito mais animalescos do que havíamos pensado. Ela leva a alegações de que somos apenas macacos inteligentes, de que nossas mentes não passam de sinais elétricos no cérebro. Existem inúmeras manifestações desse “biologismo”. Ele é explicado em milhares de livros e artigos sobre a chamada neuroestética, teoria dos memes, neurodireito e em abordagens neuroevolucionistas da política e da economia. Seus defensores afirmam, por exemplo, que somos capazes de compreender melhor a arte visual rastreando o cérebro para estudar sua reação, ou que a criminalidade é melhor explicada por um desequilíbrio entre os lobos frontais e o corpo amigdaloide. Passei mais de 30 anos argumentando contra o biologismo, e recentemente escrevi “Aping Mankind: Neuromania, Darwinitis and the Misrepresentation of Humanity” [‘Macacando’ a humanidade: Neuromania, darwinite e a representação errônea da humanidade]. A principal suposição que sustenta o biologismo é que os seres humanos são essencialmente organismos, em vez de pessoas. Para realmente compreendê-los, diz a teoria, é preciso admitir que eles não são agentes conscientes, mas pedaços de matéria viva sujeitos às leis da biosfera. O biologismo tem duas correntes, que eu chamo de neuromania e darwinite. A neuromania se baseia na crença de que a consciência humana é idêntica à atividade cerebral. Existem, é claro, correlações entre a atividade cerebral e aspectos da consciência. Estas podem ser demonstradas observando-se que partes do cérebro se “acendem” quando os sujeitos relatam determinadas experiências. No entanto, isso não quer dizer que a atividade neural é uma causa suficiente desses aspectos da consciência: que, por exemplo, os eventos vistos no córtex orbitofrontal quando vemos um objeto bonito sejam toda a causa de nossa experiência da beleza, e ainda menos que eles sejam nossa experiência da beleza. Na verdade, não há uma explicação neural concebível de muitos aspectos da consciência humana. Um registro de impulsos neurais não pode explicar a simultaneidade e multiplicidade de um momento. Estou consciente, por exemplo, da tela do computador à minha frente, das letras que se espalham por ela, da luz do sol lá fora e de pássaros cantando. Essas coisas são experimentadas separadamente, e no entanto como pertencentes a um único momento presente. Este muitos-em-um é uma noz muito mais dura de quebrar do que o mistério da Trindade. Mais importante ainda, a atividade neural não oferece explicação sobre a fonte da “referencialidade”: a qualidade essencial da consciência, que significa que minhas percepções, crenças e esperanças se referem a algo diferente de impulsos neurais. A referencialidade dos conteúdos da consciência – que os filósofos tradicionalmente chamam de “intencionalidade” – é plenamente desenvolvida nos seres humanos, que são conscientes de si mesmos como separados de seus mundos de objetos, signos e conceitos. E a intencionalidade é a origem última da esfera humana: a comunidade de mentes, tecida por um trilhão de apertos de mão cognitivos ou atenção compartilhada, dentro da qual nossa liberdade opera e nossas vidas narradas são conduzidas. O outro pilar do biologismo – a darwinite – também decorre do erro de identificar a mente com o cérebro. Se o cérebro é um órgão que evoluiu para otimizar as probabilidades de sobrevivência, segundo essa teoria, a mente também é. A darwinite, consequentemente, confunde a evolução biológica da espécie com o desenvolvimento de nossa cultura. A teoria da evolução descreve os processos da seleção natural que sem dúvida deram origem ao Homo sapiens. Mas é errado concluir que se aceitarmos essa teoria também teremos de procurar uma explicação evolucionista da gênese e da forma da cultura humana. Mas a darwinite é ainda mais vulnerável a ataques que a neuromania. Veja a diferença entre uma hora de vida animal e uma hora de vida humana. Admito que apreciar a diferença é mais difícil quando falamos em linguagem que animaliza o comportamento humano e humaniza o comportamento animal. Daisy, a vaca, bate em um arame elétrico e a partir de então o evita. Eu decido que quero melhorar minhas chances na vida, então me matriculo em um curso que começa no ano que vem e contrato uma babá para que eu tenha mais tempo para estudar. Tanto Daisy como eu podemos ser descritos como praticantes do “comportamento aprendido”, mas isso oculta diferenças profundas. Estas incluem meu complexo sentido de tempo e o fato de que estou lidando com estruturas e hábitos abstratos. Nós conduzimos nossas vidas, regulando-as por narrativas compartilhadas e individuais, enquanto os animais meramente as vivem. Muitas pessoas acreditam que o biologismo decorre inevitavelmente da teoria evolucionista. As pessoas muitas vezes pensam que sou um criacionista ou um prosélito de alguma religião. Para constar, sou um ateu humanista, um médico e neurocientista para quem a ciência é nosso maior monumento intelectual. Sou um agnóstico ontológico, não um dualista cartesiano. Só porque eu nego a identidade da mente com a atividade cerebral, não significa que eu considere a mente como um fantasma no maquinário do cérebro. Acredito que há muito trabalho a ser feito para dar sentido a um mundo que contém objetos materiais como seixos ou cérebros e itens mentais como pensamentos e experiências. Não aceito que a única alternativa a um relato sobrenatural da humanidade seja um naturalista. Entre o nascimento e a morte, habitamos uma comunidade de mentes, um mundo humano que vai além da natureza, onde podemos conscientemente usar o que aprendemos sobre as leis da natureza para fins não pretendidos na biosfera. Isto levanta perguntas sobre como chegamos a ser tão diferentes, onde se situa a mente humana no universo material e quais são os limites de nossa capacidade de nos transformarmos. Se rejeitarmos a ideia de que a atividade neural é idêntica à consciência, como deveremos entender o papel central que o cérebro tem em nossa vida consciente? Mas não faremos progresso com essas perguntas enquanto pensarmos que já as respondemos. Em particular, enquanto ignorarmos os aspectos irredutivelmente relacionais da consciência humana – sua referencialidade, sua participação na comunidade de mentes, em que sujeito e objeto são parceiros inseparáveis -, ficaremos pendentes de perguntas estéreis sobre onde ela se localiza, senão no cérebro. O biologismo também importa porque defende uma concepção degradada da humanidade. Não é histeria sugerir que relatos de pessoas como organismos vorazes, dominados por imperativos biológicos dos quais não têm consciência, poderiam se autorrealizar. Enganos que têm uma aceitação tão ampla quanto os que acabei de descrever não poderiam ficar sem consequências. Eles impedem nosso caminho para melhores respostas, para o que somos e para uma melhor compreensão de nossa relação com o mundo físico que nos cerca. *Raymond Tallis foi eleito “fellow” da Academia de Ciências Médicas por sua pesquisa sobre acidente vascular-cerebral e epilepsia?

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Fonte: UOL Notícias Internacional

A história que você nunca aprendeu na escola. Será?

15 de junho de 2010

O artigo a seguir foi escrito por Keila Grinberg, professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) para o Ciência Hoje. Muito interessante e aborda o tema que defendemos aqui no blog, de que é preciso o historiador ocupar um espaço que hoje é preenchido por jornalistas. Ainda que não sejamos – como a autora também não é – contra jornalista escrever livros sobre história, consideramos que este só vende livro no lugar do historiador por absoluta negligência de uma ‘popularização’ da historiografia, uma comunicação mais efetiva e direta, sem o ranço academicista. Não se trata, como bem lembra Grinberg, de ‘simplificar’ as obras historiográficas, mas de torná-las mais acessíveis e interessantes aos leitores. É uma questão de redimensionamento de público. Os franceses conseguem, devemos conseguir também.

A TAL DA NOVA HISTÓRIA

A história do Brasil está na moda. Ou, pelo menos, na mídia. Na televisão, novelas e minisséries retratam diversos momentos do passado; nos cinemas, filmes com tramas históricas já são comuns; até CDs – estou lembrando do Noites do Norte, do Caetano  (2000), inspirado na obra de Joaquim Nabuco – incorporaram temas da história do Brasil em suas composições. Isso sem contar as agências de viagem, que começam a explorar o turismo eco-histórico, as exposições dos museus e centros culturais e as vitrines de livrarias, repletas de lançamentos, coleções e dicionários de história do Brasil. Até parece que, de repente, todo mundo passou a se interessar pela história do Brasil. O que é ótimo. Ainda assim, são comuns anúncios de livros e filmes do tipo “você vai conhecer a história que seu professor nunca lhe ensinou”. Quem, ao se deparar com uma novidade interessante na livraria, nunca pensou: mas por que eu nunca aprendi isto na escola? Pois bem, se você não frequenta mais a escola, aí vai uma novidade: é bem possível que seus filhos, ou os filhos de seus filhos, estejam familiarizados com aquele assunto sobre o qual você nunca ouviu falar. E mais: é provável que eles tenham aprendido isso justamente na escola.

Cerimônia de beija-mão na Corte de D. João VI, no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, em caricatura de 1826. Se antes o ensino da história era centrado em reis, rainhas e heróis, hoje as minorias e a realidade social são enfocados (autor desconhecido).

O maior exemplo é o best-seller Guia politicamente incorreto da História do Brasil (Leandro Narloch, editora LeYa, 2009), há vários meses na lista dos livros mais vendidos da revista Veja.

Sua sinopse começa assim: “Existe um esquema tão repetido para contar a história do Brasil, que basta misturar chavões, mudar datas ou nomes, e pronto. Você já pode passar em qualquer prova de história na escola.”

‘Guia politicamente incorreto da História do Brasil’, de Leandro Narloch: exemplo da moda de valorizar o que não seria ensinado nas escolas

A imprensa repetiu o bordão à exaustão: no blog da revista Claudia (11/11/2009), por exemplo, o texto sobre o livro começa avisando: “Esqueça tudo o que você aprendeu nas aulas de história. O guia politicamente incorreto da História do Brasil, do jornalista Leandro Narloch, traz novas versões para vários fatos esquecidos pelos livros didáticos”.

Noção simplista

Que não me entendam mal: em princípio, nada contra o livro. Não sou daquelas historiadoras que acham que a história pertence aos historiadores. Também não engrosso o coro – comum no meio acadêmico – de que livros de história escritos por jornalistas não prestam, pelo contrário.

Boa parte dos historiadores profissionais volta as costas para a divulgação do conhecimento histórico e deixa de aprender com aqueles que fazem textos de história serem agradáveis, saborosos – e até lidos! – sem que isso envolva a simplificação de suas análises.

Vejam o Império à deriva: a corte portuguesa no Rio de Janeiro, 1808-1821 (Objetiva, 2005), um ótimo livro de história escrito por um jornalista, o australiano Patrick Wilcken.

A implicância aqui é com a estratégia de divulgação. Que, no caso, revela um grande desconhecimento acerca do ensino de história do Brasil nas escolas do ensino médio e fundamental, que passou, nas últimas décadas, por uma quase revolução – ainda que silenciosa.

A sucessão de nomes e datas pela qual o ensino da disciplina é conhecido ainda hoje foi substituída, nas décadas de 1960 e 1970, por um ensino que privilegiava as grandes transformações econômicas.

No primeiro modelo, reis e rainhas, grandes líderes e generais, eram responsáveis pelas mudanças no rumo das vidas de populações inteiras; no segundo, a luta de classes – o embate entre as formas da revolução e as forças da reação, como se dizia então – era considerada o motor do movimento na história.

Se esta última era uma história militante, que representava o combate ao regime militar no país para muitos docentes, do ponto de vista de quem aprendia elas eram, ambas as histórias, pouco interessantes – principalmente por serem distantes de seus referenciais cotidianos.

‘Navio negreiro’, tela de Johann Moritz Rugendas (circa 1830). A crueldade do tráfico de escravos certamente não era foco do ensino da disciplina um século atrás, o que ilustra as mudanças profundas na perspectiva histórica ao longo do tempo (reprodução: Wikimedia Commons).

Espaço para as minorias

De lá para cá, o ensino de história do Brasil continuou mudando. A partir do início dos anos 80, com o processo de redemocratização no país e a proliferação de cursos de pós-graduação, novos temas e objetos foram incorporados às discussões na sala de aula.

Influenciados pela historiografia francesa – a chamada Nova História – e pelos historiadores marxistas britânicos – principalmente através da história social do trabalho –, os professores começaram a ministrar aulas de história das lutas pelos direitos de cidadania, do movimento operário, das mulheres, dos negros e de outras minorias que perfazem a maioria da população deste país.

O ensino que antes vivia de heróis agora privilegia o homem comum, seus hábitos e crenças. O aluno que vivia distante da história que estudava agora pode se reconhecer, e a seus familiares, nos personagens que habitam seus livros.

Cultura popular e cotidiano, alguns dos assuntos que há algum tempo já são temas de teses acadêmicas, chegam aos livros didáticos e também ao mercado editorial.

Longe de mim pintar um mar de rosas acerca do ensino do que quer que seja – quanto mais do de história. Mas não se pode negar que a introdução de novos temas, objetos e abordagens, se não revolucionou o ensino da disciplina – ainda há muito o que fazer acerca dos métodos de se dar aulas, por exemplo –, alterou substancialmente o conteúdo das aulas.

A história do Brasil para quem estuda na escola hoje talvez ainda não seja a ideal. Mas é totalmente diferente daquela que se aprendia há tempos atrás. Ela não só é mais interessante, como é muito mais antenada nas questões de seu próprio tempo.

Por isso, ficar insistindo que aquele filme ou tal livro é bom porque conta a história “que ninguém ensina” só serve para desqualificar os historiadores, os professores e as próprias escolas. Infelizmente, este é um fenômeno que parece sempre estar na moda. E na mídia.

Encontrado o mais antigo sapato do mundo.

9 de junho de 2010

O par de sapatos de couro mais antigo de que se tem notícia está descrito em artigo publicado nesta quarta-feira (9/6) na revista científica de acesso livre PLoS ONE.

Baseado em um único pedaço de couro de boi, o sapato está em perfeito estado de conservação. (Foto: Divulgação)

Em notável estado de preservação, os calçados têm cerca de 5,5 mil anos e foram encontrados em uma caverna na Armênia. Feitos a partir de um corte único de couro, os sapatos foram feitos no tamanho exato para envolver os pés do dono e empregam cadarços.

Com 24,5 centímetros de comprimento (equivalente ao tamanho 36 no Brasil), as peças podem ter sido usadas por mulheres ou mesmo homens, uma vez que se encaixam nos tamanhos dos representantes do período Calcolítico, segundo o grupo internacional de arqueólogos responsável pela análise.

Os cientistas encontraram resíduos de grama no interior dos calçados, que poderiam ter servido para que as peças não perdessem seu formato ou para manter os pés aquecidos.

A caverna onde foram encontrados está situada na província de Vayotz Dzor, próxima à fronteira com o Irã e com a Turquia. As condições da caverna – seca, fria e com ambiente estável – permitiram a conservação de diversos registros de interesse arqueológico.

Além disso, o chão da caverna foi coberto por uma camada espessa de fezes de ovelha, que “selaram” as peças, ampliando ainda mais suas condições de preservação.

“Pensamos inicialmente que os sapatos e outros objetos ali encontrados tivessem entre 600 e 700 anos, por conta de suas excelentes condições. Somente quando o material foi datado por radiocarbono e espectrometria em dois laboratórios – em Oxford (Reino Unido) e na Califórnia (Estados Unidos) – é que soubemos que eles eram mais antigos até do que o Ötzi, o Homem de Gelo”, disse Ron Pinhasi, da Universidade de Cork, primeiro autor do artigo.

Ötzi é uma múmia masculina bem conservada, com cerca de 5,3 mil anos, encontrada em 1991 em uma geleira dos Alpes de Ötztal perto do monte Similaun, na fronteira da Áustria com a Itália.

Os sapatos foram encontrados em 2008 por Diana Zardaryan, do Instituto de Arqueologia e Etnologia da Armênia, quando fazia seu pós-doutorado. “Fiquei impressionada por ver como até mesmo os laços estavam tão bem preservados”, disse Diana, outra autora do artigo.

Outro detalhe interessante, segundo os cientistas, é que os calçados de couro se assemelham bastante aos modelos que eram usados comumente até a década de 1950 nas ilhas Aran, no oeste da Irlanda.

“Há enormes semelhanças entre a técnica de manufatura dos sapatos encontrados na caverna na Armênia com outros usados por toda a Europa posteriormente, o que indica que ess

Entenda as novas sanções impostas pela ONU ao Irã e o que está em jogo

9 de junho de 2010

O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou uma quarta rodada de sanções contra o Irã devido a seu programa nuclear. As medidas buscam pressionar o país persa a interromper seu processo de enriquecimento de urânio e comprovar a natureza pacífica de seu programa nuclear.

O Irã insiste que o programa não tem objetivos militares, mas parte da comunidade internacional suspeita que Teerã na verdade esteja buscando desenvolver armas atômicas. A BBC Brasil preparou uma série de perguntas e respostas que ajudam a explicar a questão do programa nuclear iraniano.

Quais são as novas sanções aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU?

A resolução 1929 do Conselho de Segurança amplia medidas já em vigor nas três rodadas de sanções anteriores. Entre as medidas está a proibição da venda de várias categorias de armamentos pesados ao Irã, inclusive helicópteros de ataque, mísseis e navios de guerra. Além disso, a resolução pede que todos os países inspecionem, em portos e aeroportos dentro de seus territórios, cargas suspeitas de conter itens proibidos a caminho do Irã ou vindos do país. As novas sanções também incluem o congelamento de ativos de 40 empresas iranianas e de um alto funcionário ligado ao programa nuclear iraniano, que ficará sujeito a uma proibição de viagens para fora do Irã. Outros 35 iranianos que já eram submetidos a “vigilância” agora também passam a ser afetados pela proibição.

Que outras sanções foram adotadas no passado?

O Conselho de Segurança já adotou três rodadas de sanções contra o Irã devido a seu programa nuclear. A primeira, aprovada em dezembro de 2006, estabeleceu o bloqueio de exportações ao Irã de material e equipamentos nucleares, além do congelamento de ativos financeiros de pessoas ou organizações envolvidas nas atividades nucleares do país. Já a segunda rodada de sanções, aprovada em 2007, proibiu todas as exportações de armas ao país. Além disso, pessoas envolvidas no programa nuclear tiveram seus bens congelados e foram impedidas de viajar. Em março de 2008, a ONU impôs uma última rodada de sanções, entre elas, a proibição de viagens internacionais para cinco autoridades iranianas e o congelamento de ativos financeiros no exterior de 13 companhias e de 13 autoridades iranianas. A resolução também vetou a venda para o Irã dos chamados itens de “uso duplo” – que podem ter tanto objetivos pacíficos como militares.

Como foi a votação no Conselho de Segurança?

A nova resolução foi aprovada por 12 dos 15 membros do Conselho de Segurança após cinco meses de discussões. Brasil e a Turquia, que têm vagas rotativas no conselho, sem direito a veto, votaram contra. Esses dois países vinham tentando evitar as sanções e encontrar uma solução negociada para a questão nuclear iraniana. Em maio, Brasil e Turquia haviam fechado um acordo com governo iraniano, pelo qual o Irã se comprometia a enviar seu urânio com baixo nível de enriquecimento ao território turco e receber em troca material enriquecido o suficiente para uso civil, mas não militar. Os Estados Unidos e seus aliados, porém, disseram que o acordo não era satisfatório. Eles destacaram o fato de o Irã não se comprometer a interromper seu programa de enriquecimento de urânio e resolveram levar adiante a votação das sanções. O Líbano, que também tem uma vaga rotativa, se absteve de votar. A Rússia e a China, que no passado haviam resistido à imposição de novas sanções, aprovaram as medidas. Mas a interferências desses países durante as negociações fez com que as sanções propostas na resolução fossem menos duras do que os Estados Unidos gostariam.

O que previa o acordo mediado por Brasil e Turquia?

Segundo o acordo, o Irã enviaria 1,2 tonelada de urânio com baixo grau de enriquecimento (3,5%) para a Turquia em troca de 120 kg de combustível enriquecido a 20%. A troca seria monitorada pela AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica, órgão da ONU). As potências ocidentais rejeitaram o acordo, dizendo que a oferta era pequena e havia chegado tarde demais.

Qual era a situação antes desse acordo?

Em outubro de 2009, a AIEA, com o apoio de Estados Unidos, Rússia e França, sugeriu retirar do Irã urânio com baixo grau de enriquecimento em troca de combustível com urânio enriquecido a 20%. A proposta era que o material fosse enviado para a Rússia e a França – onde seria enriquecido e transformado em varetas para uso no reator de Teerã – antes de ser devolvido ao Irã. O Irã queria a troca de seu urânio pouco enriquecido por urânio mais enriquecido em pequenas quantidades e em seu próprio território, temendo a possibilidade de não receber de volta seu urânio. Após meses de incerteza, o presidente Ahmadinejad parecia aprovar a ideia original, apresentada em outubro, mas posteriormente voltou atrás e ordenou aos seus cientistas nucleares que seguissem adiante com o enriquecimento de urânio no próprio país. O Irã diz que, se recebesse de outro país o urânio enriquecido a 20% para seu reator de pesquisas, não teria a necessidade de enriquecer o urânio. Governos ocidentais, por sua vez, argumentam que fornecer ao Irã mais combustível não eliminaria a possibilidade de novos enriquecimentos.

Mas afinal, o que exatamente o Conselho de Segurança e a AIEA queriam que o Irã fizesse?

Eles queriam que o Irã suspendesse todas as atividades de enriquecimento, incluindo a preparação do urânio, a instalação de centrífugas nas quais o gás do urânio é circulado para separar as partes mais ricas e a inserção do gás nas centrífugas. Os órgãos da ONU também queriam que o Irã suspendesse projetos envolvendo água pesada, particularmente a construção de um reator de água pesada. Este tipo de reator pode produzir plutônio, que pode ser usado como substituto do urânio em uma bomba nuclear. A AIEA também pediu que o Irã ratifique e implemente um protocolo adicional permitindo inspeções mais minuciosas como uma forma de criar mais confiança.

Qual seria o problema de permitir que o Irã enriquecesse o próprio urânio?

O argumento contra o enriquecimento do urânio pelo próprio Irã é que a atividade criaria oportunidade para que o país melhorasse sua capacidade de enriquecimento. Muitos países temem que o Irã possa evoluir nesse campo, até ter condições de construir um dispositivo nuclear – que requer urânio com um alto grau de enriquecimento, a cerca de 90%. Há receio de que o Irã esteja ao menos tentando adquirir a experiência necessária para que possa, um dia, fabricar uma bomba.

O que o Irã diz sobre a produção de armas nucleares?

O país insiste que não descumprirá suas obrigações estabelecidas pelo Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) e não usará a tecnologia para fabricar uma bomba nuclear. No dia 18 de setembro de 2009, o presidente Ahmadinejad disse à rede de televisão NBC: “Não precisamos de armas nucleares (…) isso não é parte dos nossos programas e planos”. Ele também disse à ONU, no dia 3 de maio de 2010, que armas nucleares são “um fogo contra a humanidade”. Pouco depois, o supremo líder religioso do Irã, Ali Khamenei, que, segundo relatos, teria baixado um fatwa (decreto religioso islâmico) contra armas nucleares, disse: “Nós rejeitamos fundamentalmente as armas nucleares”. Ele já havia dito isso em fevereiro deste ano.

Por que o Irã se recusa a obedecer as resoluções do Conselho de Segurança?

O país argumenta que precisa de energia nuclear e quer controlar o processo por conta própria. De acordo com o TNP, países signatários têm o direito de enriquecer urânio para ser usado como combustível na geração de energia nuclear com fins civis. Estes Estados devem permanecer sob inspeção da AIEA. O Irã está sendo inspecionado, mas não de acordo com as regras mais rigorosas, porque o país não concorda com elas. Apenas os signatários que já tinham armas nucleares quando o tratado foi criado, em 1968, têm permissão de enriquecer urânio até o nível mais alto, necessário para a obtenção de armas nucleares. O Irã dizia que estava simplesmente fazendo o permitido pelo tratado e que pretendia enriquecer urânio até o nível requerido para a produção de energia ou outros fins pacíficos. O país atribui as resoluções do Conselho de Segurança a pressões políticas dos Estados Unidos e seus aliados.

Quais são as chances de um ataque contra o Irã?

O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, já falou diversas vezes sobre o que acredita ser a ameaça em potencial representada pelo Irã. Há relatos de que Israel tenha realizado um grande exercício aéreo, considerado um teste para uma eventual ofensiva contra o território iraniano. O governo de Israel não acredita que os meios diplomáticos forçarão o Irã a suspender o enriquecimento de urânio e não quer que Teerã sequer desenvolva capacidade técnica para produzir uma bomba nuclear. Portanto, a possibilidade de um ataque de Israel permanece.

O que impede o Irã de fazer uma bomba nuclear?

Especialistas acreditam que o Irã poderia enriquecer urânio suficiente para construir uma bomba em alguns meses. Entretanto, o país aparentemente ainda não detém a tecnologia para criar uma ogiva nuclear. Em tese, o Irã poderia anunciar que está abandonando o TNP e, três meses depois de fazê-lo, estaria livre para fazer o que bem entendesse. Mas ao fazer isso, o país estaria sinalizando suas intenções e ficaria vulnerável a ataques. Se o Irã tentasse obter secretamente o material para fazer uma bomba e o plano fosse descoberto, o país estaria vulnerável da mesma forma.

Com informações da BBC Brasil

Genoma de neandertal mostra cruzamento com Homo sapiens

7 de maio de 2010
Os resultados mostram que o cruzamento sexual entre as duas espécies deverá ter ocorrido na região do Oriente Médio, entre 50 mil e 80 mil anos atrás, provavelmente logo após os homens modernos terem saído de África. Nos homens modernos não africanos, dois por cento dos genes provêem dos neandertais.
O genoma do neandertal, uma espécie de homem que se extinguiu há 30 mil anos, tem três bilhões de letras do alfabeto genético: o grupo ATCG que constitui a cadeia de ADN. Mas a leitura desse imenso “livro” genético acaba de ser concluída. O genoma completo do homem de Neandertal, publicado hoje na Science, põe um ponto final no debate sobre se neandertais e Homo sapiens se reproduziram em comum. A resposta é sim. Houve cruzamento entre ambos, e isso terá ocorrido entre 50 mil e 80 mil anos, no Oriente Médio.
A equipe internacional de investigadores que produziu este primeiro retrato genético dos neandertais foi coordenada por Svante Paabo, do Instituto Max Planck, em Leipzig (Alemanha), e utilizou amostras de ossos de três espécimes do sexo feminino que viveram entre 38 mil e 44 mil anos. Esses fósseis foram encontrados na gruta de Vindiglia, na Croácia.
“Ter uma primeira versão do genoma dos neandertais é cumprir um sonho antigo”, afirmou o líder da equipa, Svante Paabo, notando que, “agora, pela primeira vez, podemos identificar padrões genéticos que nos diferenciam desse parente próximo”. Este primo, que é o mais próximo do Homo sapiens, surgiu há cerca de 400 mil anos em África e migrou para norte, para a Eurásia, onde evoluiu independentemente do Homo sapiens, na Ásia Ocidental, Sul da Sibéria, Médio Oriente ou Península Ibérica.
O sapiens emergiu também em África, há cerca de 270 mil anos, e há 80 mil anos pôs-se, também ele, a caminho do norte, em direcão à Eurásia. O encontro entre ambas as espécies dá-se a partir daí e é isso que mostra a comparação entre o genoma do neandertal e do homem moderno.
Para poderem avaliar diferenças e semelhanças entre ambos e compreender a sua evolução, os investigadores compararam o genoma de neandertal com o de cinco seres humanos modernos: um do sul da África, outro da África Ocidental, um da Europa Ocidental, outro da China e ainda um da Papua-Nova Guiné.
Os resultados mostram que o cruzamento sexual entre as duas espécies deverá ter ocorrido na região do Oriente Médio, entre 50 mil e 80 mil anos atrás, provavelmente logo após os homens modernos terem saído de África. Nos homens modernos não africanos, dois por cento dos genes provêem dos neandertais. O fato de isso não se verificar nos genomas dos africanos estudados reforça a hipótese de o cruzamento entre ambas as espécies ter ocorrido já fora da África.

Descobertas tumbas dos construtores das pirâmides do Egito

12 de abril de 2010

Arqueólogos egípcios descobriram um grupo de novas tumbas de trabalhadores que construíram as pirâmides, abrindo espaço para entender a forma como eles viviam e comiam há mais de 4.000 anos.  O achado ajuda a entender como vivia e comia o povo há mais de 4.000 anos.

Imagem divulgada pelo Conselho Supremo de Antiguidades do Egito mostra as tumbas dos trabalhadores e as pirâmides (Foto: AP)

As tumbas são pertencentes à 4ª dinastia, entre os anos 2.575 a.C. e 2.467 a.C., quando as Grandes Pirâmides foram construídas, segundo o diretor do Conselho Supremo de Antiguidades do Egito, Zahi Hawass.

As primeiras tumbas de trabalhadores que construíram as pirâmides foram encontradas nos anos 1990 e, junto com as novas descobertas, indicam que os trabalhadores não eram escravos, como se pensava anteriormente.

“Essas tumbas foram construídas ao lado da pirâmide do rei, o que indica que essas pessoas não eram escravas, pois não poderiam ter construído suas tumbas dessa forma”, disse Hawass. As tumbas eram usadas para trabalhadores mortos durante a construção.

As evidências encontradas apontam que aproximadamente 10 mil trabalhadores atuaram na construção da pirâmides e eles comiam 21 bois e 23 ovelhas que eram enviados diariamente para eles por fazendas do norte e do sul do Egito.

Tumba de trabalhadores egípcios de 4.000 anos atrás foi descoberta por arqueólogos (Foto: AP)

Localizada fonte de aqueduto da Roma Antiga

12 de abril de 2010

Uma equipe de arqueólogos localizou a fonte de um aqueduto romano construído pelo imperador Trajano há quase 2 mil anos. As câmaras coletoras estavam sob uma igreja a noroeste de Roma. O aqueduto, com cerca de 40 km de extensão, foi inaugurado no ano 109 e era um dos onze que abasteciam Roma – uma cidade que crescia rapidamente e tinha um milhão de habitantes.

Imagem: Reprodução BBC

Com ajuda de raios-x, cientistas europeus tentam “ver” cérebro de ancestral humano de 2 milhões de anos

12 de abril de 2010

Dia 8 de abril publicamos aqui no blog a notícia da descoberta do Australopithecus sediba, na África do Sul. Agora, os cientistas europeus tentam “ver” o que está dentro do fóssil.

Para isso, os pesquisadores estão usando aparelhos de raio-x de última geração para tentar encontrar indícios de como era o cérebro desse ancestral do homem de cerca de 2 milhões de anos.

Com essa técnica, é possível “ver” o que há dentro de um bloco fossilizado. A imagem formada, de alta resolução, mostra detalhes mil vezes menores do que um milímetro.

Os cientistas ainda não divulgaram quais foram as descobertas que puderam fazer usando o raio-x, mas já adiantaram que conseguiram detectar até ovos de insetos que provavelmente foram depositados na pele do animal após a sua morte.

Por causa das boas condições do esqueleto – e porque os arqueólogos não retiraram o material que havia dentro do crânio – cientistas franceses se animaram em fazer um exame de microtomografia usando raios-x síncroton. (Foto: ESRF/Divulgação)

Estranho sarcófago descoberto na antiga metrópole de Gabii, Itália

9 de abril de 2010

Arqueólogos consideram que corpo poderá ser
de gladiador ou dignitário cristão

Um estranho sarcófago com 1700 anos foi descoberto na antiga metrópole de Gabii, na Itália. Os arqueólogos dizem que poderia ser de um gladiador ou de um dignitário cristão. O túmulo foi encontrado numa cova de cimento tapada e o caixão é incomum – feito de chumbo e apenas algumas centenas de funerais romanos deste gênero são conhecidos.

O cadáver surgiu embrulhado, com 362 quilogramas de chumbo em cima – o que pareceu bastante estranho a Jeffrey Becker, arqueólogo da McMaster University (EUA) e responsável pelo Projeto Gabii. A maioria dos sarcófagos é semelhante a antigas “caixas de biscoito”, moldados “de forma retangular, com uma tampa por cima”, explicou.

Abrir o caixão poderia oferecer novos avanços sobre uma civilização poderosa que tem sido esquecida durante séculos. Esta foi uma das maiores descobertas em Gabii (a 18 quilômetros de Roma), recentemente, e Becker e a sua equipa receberam uma verba para o projeto da National Geographic Society’s Committee for Research and Exploration.

Gabii foi fundada no século X a.C, e foi abundante durante séculos. Pode ter sido um pouco como Roma, onde a população fez da cidade densa, barulhenta, segundo Becker. O arqueólogo refere que por volta do século I e II d.C. foi-se contraindo e que no século IX já quase não restava nada, mas as causas para o seu desaparecimento não são claras.

No entanto, os especialistas consideram que o mais óbvio é o fato de a expansão de Roma e ambições territoriais terem eventualmente contribuído. Os mistérios sobre Gabii tornam a descoberta ainda mais intrigante. Vários enterros semelhantes, encontrados pela Europa, continham soldados, membros da elite cristã e gladiadores do sexo feminino.

Mistérios e perigos

Becker considerou ainda estranho o lugar onde foi encontrado o sarcófago. A mentalidade religiosa da época tinha muitos tabus e era contra enterrar mortos dentro dos limites da cidade.

Alguns destes funerais era organizados de forma a conseguirem manter a preservação do tecido humano e cabelos; embora a abertura existente no sarcófago pode significar que o ar tenha acelerado de decomposição do corpo”,

explicou o investigador.

Os exames preliminares revelaram que o osso do pé estava intacto. Os ossos podem dizer muito aos cientistas sobre uma pessoa ou a sua cultura. Contudo, a equipa de Becker pode não conseguir trabalhar directamente no esqueleto, já que abrir o caixão poder ser muito perigoso. O pó de chumbo é cancerígeno e correm o risco de expor o corpo a bactérias que poderiam facilmente danificá-lo.

A Academia Americana fará experiências preliminares, incluindo um exame endoscópico através de uma pequena câmara de fibra óptica, no buraco existente junto ao pé visível e se ficar provado que o pó de chumbo pode ser facilmente contido, o próximo passo seria encontrar uma sala limpa, semelhantes às da Nasa, para abrir o caixão.

Do site Ciência Hoje, Portugal.

Projeto é esperança para salvar ruínas da Babilônia da água

8 de abril de 2010

Imagem de 20.06.2009 mostra danos estruturais que ameaçam ruínas da Babilônia, no Iraque

A ameaça mais imediata à preservação das ruínas da Babilônia, o local de uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo, é a água que inunda o chão e destrói o que restou de uma grande cidade da época do Rei Nabucodonosor II, onde hoje é o Iraque.

Essa também é uma das ameaças mais antigas. O próprio rei enfrentou problemas de água há 2.600 anos. A negligência, reconstruções sem cuidado e pilhagem em tempos de guerra também causaram problemas em épocas mais recentes, mas arqueólogos e especialistas em preservação de relíquias culturais dizem que nada substancial deve ser feito para corrigir isso até que o problema da água esteja sob controle.

Um estudo atual, conhecido como projeto Futuro da Babilônia, documenta os danos causados pela água, especialmente associados ao rio Eufrates e ao sistema de irrigação ali perto. O solo está saturado logo abaixo da superfície em locais do Portão de Ishtar e os Jardins Suspensos, há muito extintos, uma das sete maravilhas. Tijolos estão se esfarelando, templos estão em colapso. A Torre de Babel, reduzida a pedregulhos, está cercada de água estancada.

Os líderes do projeto internacional, ao descrever suas descobertas em entrevistas e numa reunião realizada em março em Nova York, disseram que qualquer plano para reivindicar a Babilônia como atração turística e local de pesquisa arqueológica deve incluir o controle da água como “a prioridade número 1”.

O estudo, que visa desenvolver um planejamento para a cidade antiga, foi iniciado no ano passado pelo World Monuments Fund, em colaboração com o Conselho Estatal de Antiguidades e Patrimônio do Iraque. Uma verba de US$ 700 mil do Departamento de Estado americano está financiando o estudo inicial de dois anos e um plano preliminar de gerenciamento. Um representante do fundo afirmou que todo o esforço poderia durar cinco ou seis anos.

“Este é, sem dúvida, o programa mais complexo que já tivemos de organizar”,

disse Bonnie Burnham, presidente do fundo.

Alguns arqueólogos expressaram preocupação sobre o que eles disseram ser o lento início do programa.

Membros do projeto afirmaram ter tido sérios problemas em persuadir especialistas estrangeiros a ir até o Iraque e então liberar a entrada deles e de seus instrumentos de trabalho no país.

Além do desgaste do tempo a que estão sujeitas todas as ruínas antigas, a Babilônia também sofreu depredações na história recente. Arqueólogos alemães que realizaram o primeiro estudo minucioso do local, antes da Primeira Guerra Mundial, reconheceram as incursões de águas de irrigação trazidas de um afluente do rio Eufrates, a 80km da atual Bagdá.

McGuire Gibson, especialista em arqueologia mesopotâmica da Universidade de Chicago, que não está envolvido no projeto, concordou que a água seja o “principal problema” da Babilônia. Segundo ele, o problema piorou nos últimos anos, quando um lago e um canal foram escavados como parte de esforços para atrair turistas. O próprio Nabucodonosor, como Gibson observou, lidava com a invasão das águas erguendo novas construções em níveis ainda mais elevados, em cima de montes de ruínas antigas.

Os primeiros pesquisadores alemães, liderados por Robert Koldewey, relataram ter encontrado danos extensivos causados pela água a estruturas de tijolo de barro e a intrusão de campos de agricultura e vilas dentro das fronteiras da cidade original. As pessoas já tinham carregado tijolos e pedras, deixando quase nada do Zigurate, conhecido pelo historiador Heródoto e pela Bíblia como a Torre de Babel. Os próprios alemães rebocaram o Portão de Ishtar para um museu em Berlim.

Então, nas décadas de 1970 e 1980, Saddam Hussein, lançando-se como herdeiro da grandeza da Nabucodonosor, construiu seu próprio palácio imponente na Babilônia, no local do antigo palácio de seu antecessor real. Ele até adotou a prática do rei de cunhar seu próprio nome nos tijolos da reconstrução. Arqueólogos ficaram horrorizados. O novo palácio e algumas outras restaurações, dizem eles, não são autênticas, mas mesmo assim dominam o local.

O que fazer com o palácio de Saddam é outro problema, disse o codiretor do projeto, Jeff Allen. “Como equilibrar a integridade do local com seu uso como atração turística é um problema”,

explicou ele, observando que o Iraque conta com a Babilônia como futura fonte de receita turística.

Allen, consultor americano em preservação cultural e radicado no Cairo, disse que custaria milhões de dólares demolir o palácio ou convertê-lo num centro de visitação para turistas. “Isso ainda tem que ser estudado por outros especialistas”, disse ele. Ele brincou ao sugerir que o palácio ficaria perfeito como cassino.

“Eu deixaria o lugar em paz”, disse Gibson, apontando que a construção foi baseada em rascunhos deixados pelos arqueólogos alemães.

“Assim, você pode caminhar ao redor de algo parecido com a antiga arquitetura”, continuou. “De outra forma, você vai caminhar e não ver nada, a não ser um monte de ruínas”.

Elizabeth C. Stone, arqueóloga da Stony Brook University, em Nova York, e que tem familiaridade com a Babilônia, afirmou apoiar esforços para reabrir o local para turistas, especialmente os próprios iraquianos.

“Está perto de Bagdá e é um dos locais onde víamos os iraquianos irem para saber um pouco mais sobre seu passado”.

Mais danos foram causados durante a guerra do Iraque, iniciada em 2003. A pilhagem dominou ali e em outros sítios arqueológicos. O exército americano ocupou a Babilônia por vários anos, protegendo-a de saques, mas deixando outras cicatrizes. Cerca de 1km2 de solo de superfície, alguns com artefatos, “foi removido de uma forma ou de outra”, disse Stone.

“Os militares certamente não fizeram bem algum ao lugar”, disse Lisa Ackerman, vice-presidente executiva do fundo de monumentos. “Eles moveram muita terra, mas o dano é reparável”. O local foi devolvido ao controle iraquiano há mais de um ano. Ackerman e Allen disseram que o projeto já tinha feito um levantamento sobre os remanescentes, construção por construção, e iniciado a restauração de dois museus. Embora o Iraque tenha o maior corpo de arqueólogos treinados, dizem eles, uma necessidade imediata é instruir outras pessoas na conservação de ruínas e trazer engenheiros e hidrólogos para lidar com o problema da água.

Por The New York Times